Um
ano após receber em doação o prédio, localizado no centro da cidade, para
instalar um campus avançado na região da Campanha, a direção da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel) desistiu da ideia e irá devolver o imóvel quase
centenário ao município. Durante o último ano, o casarão permaneceu fechado
sofrendo com a deterioração de sua estrutura e de cartão postal transformou-se
em motivo de vergonha para a população.
“A
universidade está impossibilitada de fazer qualquer investimento a médio prazo,
pois não há verbas sequer para resolver problemas como as ampliações ou
reformas de salas de aula exigidas pelo plano de expansão e o aumento do número
de estudantes”, justifica o coordenador de Relações Institucionais da
universidade, Hemerson Pase.
Como
forma de compensar a cidade pelo prejuízo, a UFPel deverá elaborar
gratuitamente o projeto de restauro do Hotel da Luz. Mas quem deverá correr
atrás do dinheiro para as obras e pagar a conta, deverá mesmo ser a Prefeitura.
“Até o final do ano acreditamos que este projeto estará pronto”, prevê Pase.
De cartão postal
a motivo de vergonha
A
localização é nobre, bem no centro da cidade. Situado na esquina das ruas
Humaitá e Nico de Oliveira, o prédio onde por décadas funcionou o tradicional
Hotel da Luz nem de longe lembra os áureos tempos em que recebia visitantes que
chegavam a Pinheiro Machado para os bailes do Clube Comercial ou para negociar
ovelhas, abundantes nos campos do município. Ao invés da clássica fachada, o
que se vê são tapumes de madeira já corroídos pelo tempo, tentando esconder as
portas arrombadas e janelas quebradas.
Não
deveria ser assim. Construído em 1937 obedecendo linhas modernas para a época,
o Hotel da Luz funcionou no local durante sete décadas. Encerradas as
atividades, o prédio histórico só teve mais um hóspede: o Papai Noel. Após
adquirido pelo município no governo do então prefeito Carlos Ernesto Betiollo
em 2001 por R$ 75 mil, o local foi dividido em duas partes.
De
um lado houve a reforma e adaptação para ser sede da Câmara de Vereadores e do
outro tudo continuou intocado, sediando apenas algumas edições das festividades
natalinas locais como a “Casa do Papai Noel”. Depois disso, houve a intenção de
utilizar a estrutura como um museu com parte da história pinheirense, o que
nunca se concretizou.
Desde
então, ao invés de estancieiros e até mesmo do bom velhinho, passaram a
frequentar o antigo hotel apenas usuários de drogas, que aproveitam o abandono
da esquina para esconderem-se durante a madrugada.
“Há
uma preocupação com isso porque o piso, o teto, as janelas, muita coisa aqui é
de madeira. Se alguém resolve atear fogo isso se alastra rapidamente pela
Câmara e não há Bombeiros na cidade”, diz Márcio Régio, funcionário do
Legislativo, ao mostrar o interior do imóvel.
Apesar
do estado visivelmente precário do casarão, a engenheira civil Ana Maria
Corrêa, chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Prefeitura, diz não
saber da situação da estrutura. “E nem posso falar sobre isso sem antes
consultar o prefeito, pois é ele quem paga o meu salário”, disse ao ser
questionada.
Campus dos
sonhos
Sem
uso pelo município e precisando de reforma urgente, a parte do Hotel da Luz com
cerca de 348 metros quadrados passou a ser cogitada como futura sede de uma
extensão da Universidade Federal de Pelotas em 2011. No começo daquele ano,
ainda sob a gestão do ex-reitor César Borges, a UFPel assinou protocolo de
intenções com a Prefeitura de Pinheiro Machado para instalação do Núcleo de
Geologia, com a promessa de estabelecer cursos de Tecnologia em Mineração e
Tecnologia em Gestão Ambiental.
Como
contrapartida à doação do prédio, efetivada em junho de 2012 através da Lei
Municipal nº 4048 aprovada pela Câmara, a universidade se comprometeu a
restaurar o antigo hotel.
De
lá para cá, o desejo do campus abrigando um centro de pesquisa voltado ao
potencial da região precisou ser adaptado. Ao invés de um prédio cedido, com
diversas especializações, a UFPel se instalou na antiga Estação Rodoviária
mantendo apenas o curso de Gestão Ambiental. Por essa permanência “provisória”
a Prefeitura paga, desde o início de 2011, R$ 3.802,26 mensais à Mitra
Diocesana de Bagé, proprietária do imóvel, o que já gerou um gasto superior a
R$ 70 mil aos cofres pinheirenses. Isso sem contar as obras de adaptação feitas
com dinheiro público no local.
Enquanto
isso, o tempo se encarregou de derrubar o teto do velho hotel e a combinação de
chuva, vento e sol no interior do local destruiu o assoalho de madeira.
Associada a isso, a ação de vândalos se acelerou o processo de degradação da
fachada. “O Hotel da Luz é a vergonha da nossa cidade. Eu me envergonho muito
daquele prédio”, resigna-se o prefeito José Felipe da Feira.
Fonte:
Reportchê
Adm: Silviane Medeiros