sexta-feira, 2 de agosto de 2013

UFPEL DESISTE DE RESTAURAR PRÉDIO HISTÓRICO DE PINHEIRO MACHADO

Um ano após receber em doação o prédio, localizado no centro da cidade, para instalar um campus avançado na região da Campanha, a direção da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desistiu da ideia e irá devolver o imóvel quase centenário ao município. Durante o último ano, o casarão permaneceu fechado sofrendo com a deterioração de sua estrutura e de cartão postal transformou-se em motivo de vergonha para a população.
“A universidade está impossibilitada de fazer qualquer investimento a médio prazo, pois não há verbas sequer para resolver problemas como as ampliações ou reformas de salas de aula exigidas pelo plano de expansão e o aumento do número de estudantes”, justifica o coordenador de Relações Institucionais da universidade, Hemerson Pase.
Como forma de compensar a cidade pelo prejuízo, a UFPel deverá elaborar gratuitamente o projeto de restauro do Hotel da Luz. Mas quem deverá correr atrás do dinheiro para as obras e pagar a conta, deverá mesmo ser a Prefeitura. “Até o final do ano acreditamos que este projeto estará pronto”, prevê Pase.

De cartão postal a motivo de vergonha
A localização é nobre, bem no centro da cidade. Situado na esquina das ruas Humaitá e Nico de Oliveira, o prédio onde por décadas funcionou o tradicional Hotel da Luz nem de longe lembra os áureos tempos em que recebia visitantes que chegavam a Pinheiro Machado para os bailes do Clube Comercial ou para negociar ovelhas, abundantes nos campos do município. Ao invés da clássica fachada, o que se vê são tapumes de madeira já corroídos pelo tempo, tentando esconder as portas arrombadas e janelas quebradas.
Não deveria ser assim. Construído em 1937 obedecendo linhas modernas para a época, o Hotel da Luz funcionou no local durante sete décadas. Encerradas as atividades, o prédio histórico só teve mais um hóspede: o Papai Noel. Após adquirido pelo município no governo do então prefeito Carlos Ernesto Betiollo em 2001 por R$ 75 mil, o local foi dividido em duas partes.
De um lado houve a reforma e adaptação para ser sede da Câmara de Vereadores e do outro tudo continuou intocado, sediando apenas algumas edições das festividades natalinas locais como a “Casa do Papai Noel”. Depois disso, houve a intenção de utilizar a estrutura como um museu com parte da história pinheirense, o que nunca se concretizou.
Desde então, ao invés de estancieiros e até mesmo do bom velhinho, passaram a frequentar o antigo hotel apenas usuários de drogas, que aproveitam o abandono da esquina para esconderem-se durante a madrugada.
“Há uma preocupação com isso porque o piso, o teto, as janelas, muita coisa aqui é de madeira. Se alguém resolve atear fogo isso se alastra rapidamente pela Câmara e não há Bombeiros na cidade”, diz Márcio Régio, funcionário do Legislativo, ao mostrar o interior do imóvel.
Apesar do estado visivelmente precário do casarão, a engenheira civil Ana Maria Corrêa, chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Prefeitura, diz não saber da situação da estrutura. “E nem posso falar sobre isso sem antes consultar o prefeito, pois é ele quem paga o meu salário”, disse ao ser questionada.

Campus dos sonhos 
Sem uso pelo município e precisando de reforma urgente, a parte do Hotel da Luz com cerca de 348 metros quadrados passou a ser cogitada como futura sede de uma extensão da Universidade Federal de Pelotas em 2011. No começo daquele ano, ainda sob a gestão do ex-reitor César Borges, a UFPel assinou protocolo de intenções com a Prefeitura de Pinheiro Machado para instalação do Núcleo de Geologia, com a promessa de estabelecer cursos de Tecnologia em Mineração e Tecnologia em Gestão Ambiental.
 Como contrapartida à doação do prédio, efetivada em junho de 2012 através da Lei Municipal nº 4048 aprovada pela Câmara, a universidade se comprometeu a restaurar o antigo hotel.
De lá para cá, o desejo do campus abrigando um centro de pesquisa voltado ao potencial da região precisou ser adaptado. Ao invés de um prédio cedido, com diversas especializações, a UFPel se instalou na antiga Estação Rodoviária mantendo apenas o curso de Gestão Ambiental. Por essa permanência “provisória” a Prefeitura paga, desde o início de 2011, R$ 3.802,26 mensais à Mitra Diocesana de Bagé, proprietária do imóvel, o que já gerou um gasto superior a R$ 70 mil aos cofres pinheirenses. Isso sem contar as obras de adaptação feitas com dinheiro público no local.
Enquanto isso, o tempo se encarregou de derrubar o teto do velho hotel e a combinação de chuva, vento e sol no interior do local destruiu o assoalho de madeira. Associada a isso, a ação de vândalos se acelerou o processo de degradação da fachada. “O Hotel da Luz é a vergonha da nossa cidade. Eu me envergonho muito daquele prédio”, resigna-se o prefeito José Felipe da Feira. 


Fonte: Reportchê

Adm: Silviane Medeiros

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