Na
noite de segunda-feira, 12, o Fórum em Defesa do SUS/RS organizou o Seminário
sobre Atenção Primária – O desafio da Construção de uma rede pública, estatal e
integral de Saúde da Família em Porto Alegre, no Auditório da Faculdade de
Economia da UFGRS.
Para
debater o tema, foram convidados o presidente do Sindsepe/RS, Cláudio Augustin,
a professora e integrante do Fórum Nacional contra a Privatização da Saúde
Maria Valéria Costa Correia e a especialista em Saúde Pública e ex-secretária
municipal de Saúde de Betim (MG) Conceição Rezende.
Cláudio
Augustin abriu o debate fazendo uma retrospectiva da luta pela saúde pública e
a criação do SUS. “Em 1988, o artigo 39 da Constituição Federal garantiu Regime
Jurídico Único e Plano de Carreira no serviço público. Com os governos
neoliberais de Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso veio à reforma
administrativa que iniciou a flexibilização dos direitos dos servidores”,
explicou. Segundo ele, o desmonte do serviço público iniciado na década de 90
definiu a atual estrutura da Atenção Básica em Saúde de Porto Alegre que é
muito complicada. Hoje, o quadro da saúde tem regimes diferentes, cargas
horárias diversas, servidores municipais, estaduais e federais, o que dificulta
um trabalho em conjunto. “Para tentar barrar a progressiva privatização da
saúde no estado, criamos o Fórum de Entidades em Defesa do SUS que já obteve
algumas vitórias. Uma delas foi a decisão do TJ de declarar o IMESF
inconstitucional, assim como, as fundações públicas de direito privado de Novo Hamburgo
e Sapucaia do Sul”.
Na
opinião de Augustin, a atenção básica é fundamental para a saúde da população e
não pode funcionar como uma indústria da doença que lida com o adoecimento como
fonte de lucro. Por fim, ele defendeu que o modelo de gestão deve ser a
estratégia da família, mas não com regime celetista. O regime deve ser o
estatutário, conforme determina a Constituição Federal e a Lei Orgânica de
Porto Alegre. Também afirmou a necessidade de um Plano Municipal de Atenção
Básica e a disciplinalização das relações de trabalho.
Modelos privatizantes de gestão
Maria
Valéria falou sobre os modelos de gestão privatizantes, como as OSs, Oscips e
fundações, e o movimento de resistência à privatização da saúde que se organiza
no Fórum Nacional e nos fóruns estaduais e municipais. como o lema “Saúde não é
mercadoria”, os fóruns lutam contra a progressiva privatização do SUS, com
apoio estatal, através de convênios dentro do sistema, da compra de serviços na
rede privada e os incentivos aos planos privados.
Segundo
ela, em plena ditadura militar, contexto em que o capital financeiro, sob
condições monopolísticas, passou a determinar as ações do Estado brasileiro,
situa-se o alinhamento da saúde aos interesses do capital por dentro do setor
previdenciário, através da implementação de um complexo médico-industrial, que
beneficiou empresas internacionais de produção de medicamentos e de
equipamentos médicos. “O questionamento deste alinhamento foi o que unificou os
movimentos sociais no Movimento da Reforma Sanitária em torno da defesa da
saúde pública e contra a privatização. O Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto
de lutas de setores progressistas organizados na sociedade civil que se
congregaram no Movimento de Reforma Sanitária, travando uma batalha contra o modelo
“médico assistencial privatista” centrado no atendimento individual e curativo
do sistema previdenciário, nos anos de 1970 e 1980″, destacou.
A
professora constatou que, mesmo com os avanços que a implementação do SUS
trouxe para a saúde da população brasileira, muitos problemas persistem em
termos de falta de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis da
assistência e relacionados à baixa qualidade dos serviços prestados, devido ao
sucateamento da rede pública com falta de pessoal, infra-estrutura e insumos
necessários para os procedimentos mais elementares. “Paralela a esta realidade
observa-se que houve um crescimento no número de usuários de planos de saúde de
34,5 milhões para 44,7 milhões em seis anos (2000 a 2006). Na 1ª década do
século XXI, houve um crescimento de 81,03% dos estabelecimentos privados de
saúde, de 43,58% dos planos de terceiros e 48,64% do pagamento particular. O
Brasil é o 2º mercado mundial de seguros privados perdendo apenas para os
Estados Unidos da América.”
Experiência
de Betim
Por
fim, a ex-secretária municipal de Saúde de Betim (MG) Conceição Rezende
apresentou a sua experiência frente à secretaria. No início do ano passado, o
município de Betim ficou em primeiro lugar com a criação de uma mesa permanente
de negociação com servidores da saúde. Segundo ela, a participação é um
princípio da gestão da saúde no Brasil. “As Mesas de Negociação Permanente
fazem parte das políticas de gestão do trabalho no SUS. É um sistema em
implantação e temos várias experiências exitosas como a de Betim. Essas Mesas
possuem estatuto próprio, composição paritária entre o gestor e as entidades
sindicais do setor, pauta de negociação pactuada e calendário de reuniões e
eventos pré-estabelecidos. Nesse espaço de convivência e pactuação é possível
estabelecer uma relação amistosa e de confiança entre as partes, pela qual os
dois lados respeitam o lugar ocupado por cada um e têm-se o entendimento da
imprescimbilidade de ambos os lados na construção do SUS”, explicou.
Conceição
acredita que com esse processo, cessam as relações verticais e burocratizadas
dentro do SUS e renovam-se a cada dia o respeito, a confiança, o compromisso e
a certeza de dias melhores para o SUS e para os trabalhadores. “Foi esse
processo que registramos para participar do processo de premiação do Ministério
da Saúde, em 2011, pelo qual recebemos, em fevereiro de 2012, o Prêmio do 1º lugar”.
Adm: Silviane Medeiros
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